A boutique Mistura Feminina agora está em local movimentado na Capital do Tocantins, do jeito que a empresária sempre quis, após arriscar tudo e mudar para um ponto de maior visibilidade
Ela tem 38 anos e há 27 trabalha para conquistar os seus sonhos. Ana Cleude França é uma mulher extraordinariamente improvável. Seu sucesso é consequência de uma série de decisões que tomou ao longo dos anos – as mais difíceis, qualquer um diria – mas que a conduziram para que se tornasse hoje uma empresária reconhecida no segmento de lojas femininas em Palmas, no Tocantins.
Nascida em Pinheiro, interior do Maranhão, ela e mais seis irmãos tiveram de enfrentar o duro baque da separação dos pais quando ainda era uma criança. Sem estabilidade familiar, Ana Cleude recorda que, nesse tempo, era praticamente só. “Quando eu tinha 11 anos, os meus pais se separaram. Logo em seguida, fui entregue a uma casa de família. Trabalhava como babá e também nos serviços da casa, em troca apenas de roupas e sapatos.”
Apesar de Ana Cleude considerá-las pessoas boas e que a tratavam bem, não havia sequer pagamento de salário. “Na verdade, eu cresci nessa família. Enquanto isso, seguia estudando na escola e conciliando com os serviços da casa. Aos 15 anos, fui trabalhar na lanchonete dessa mesma família, porém, continuei a receber como remuneração, roupas e calçados. Meu pai, que na época morava na cidade, viu essa situação e me tirou de lá para trabalhar com a minha madrinha”, relembra a empreendedora.
Primeiro ‘salário’ – Ana Cleude permaneceu durante dois anos trabalhando também nos serviços domésticos na casa da madrinha e auxiliando nas costuras. Dessa vez, ela se recorda, entre risos, do pagamento mensal: 50 reais. “Dá para acreditar nisso?”, questiona, durante a entrevista. A partir de então, a empresária começou a vender “bugigangas”, como ela mesma referiu, com simplicidade e humildade tocantes.
“Eram brincos, acessórios de cabelo, colares, que conseguia comprar para revender. Cheguei a ir até São Luiz para comprar um pequeno estoque e tive a chance de abrir a minha primeira barraquinha na feira.” Nessa época, Ana Cleude se casou pela primeira vez e teve duas filhas, Mychelle, hoje com 18 anos, e Tayanne Eduarda, agora com 16.
A empresária lembra que as filhas eram pequenas e tinha que fazer malabarismo para trabalhar na feira. “O meu primeiro marido resolveu me ‘ajudar’ nesse tempo. Vendia as peças, mas gastava também sem me avisar. Por isso, não foi para frente a barraquinha”, explicou Ana Cleude.
Depois disso, ela até havia esquecido de mencionar que, por intermédio da madrinha, muito católica, conseguiu vender uma espécie de shake que fazia com guaraná da Amazônia, açaí e complementos, em um ponto de esquina, propriedade do bispo da cidade. “Fiquei assim durante mais ou menos um ano e não dava para pagar as contas. Resolvi também me separar nessa época. Dei um basta, reuni as meninas, arrumei uma trouxa de roupas e vim parar aqui, em Palmas, após restabelecer o contato com a minha mãe que já morava na cidade.”
Jornada tripla de trabalho
Ana Cleude passou mais um ano trabalhando como babá, dessa vez por 200 reais mensais. Logo ela sairia dessa função, após casar-se novamente. A caçula, Anny Vitória, hoje com 10 anos, havia acabado de nascer. A empreendedora permaneceu trabalhando como operadora de caixa em um supermercado da cidade, durante os 12 anos seguintes.
“Como eu trabalhava meio período no supermercado, eu conseguia viver de sacoleira nos horários vagos. Comprava as peças aqui mesmo, com fornecedores que já me conheciam, pois eles traziam as roupas de fora para que eu pagasse depois. Nessa época, eu vendia as minhas férias para conseguir comprar estoque”, rememora o sacrifício que fez, mas que depois valeria muito.
O destino começou a conspirar a seu favor quando sua mãe lhe ajudou a constituir uma loja dentro de uma galeria da cidade. “Continuei trabalhando no supermercado, mas conciliava com a loja. O ponto ficava em uma rua paralela, com pouco movimento e ali não conseguia vender muito. Mas eu tenho a sorte de ter uma amiga, a quem considero uma irmã, que logo me cedeu outro ponto que era dela, dessa vez na avenida, pois ela é dona de uma loja de roupas infantis e precisava de um local maior”, afirmou a empresária, quando começou a virar a chave do seu destino.
Novas perspectivas de sucesso
Ana Cleude pagou para a amiga apenas as melhorias implementadas anteriormente no local, como bebedouro, ar condicionado, entre outros detalhes. Agora seu desafio é fazer crescer o nome da loja, Mistura Feminina, pois empreendedora nata, já comprovou que é.
“Nesse intervalo eu me separei novamente. Inauguramos a loja no novo local há menos de um ano. Não vou negar que fiquei bastante ‘apertada’, pois mudei todos os móveis e realizei outros investimentos, logo após ter adquirido o primeiro ponto, mas creio em Deus que o negócio vai crescer rapidamente”, disse com convicção.
Ana Cleude, que antes reservava um espacinho na sala de casa, vendia online e como podia, hoje já está se consolidando e agora trabalha apenas no seu próprio negócio. “Há pouco mais de um ano eu deixei o supermercado. Às vezes passamos por cada coisa em nossas vidas, mas não podemos, jamais, baixar a cabeça’. As filhas também ajudam Ana Cleude em sua loja. “Elas são minhas modelos. A mais velha está cursando enfermagem e ama estudar. Ficam perto de mim o tempo todo.”
Sobre o Sicredi, a empresária ficou surpresa com o carinho e consideração dos colaboradores da cooperativa, antes mesmo de fazer parte do Donas do Negócio. “Fiquei sabendo da existência do Sicredi por conta de uma amiga. Resolvi ir conhecer para saber se era tão bom mesmo quanto falavam. Do segurança ao gerente, todos me trataram super bem, como se já me conhecessem há anos.”
Agora associada Donas do Negócio da agência Taquaralto, em Palmas (TO), Ana Cleude vai decolar ainda mais, nessa nova fase de sua vida. Siga o perfil do Instagram da loja: Mistura Feminina – e apoie essa admirável empreendedora!