A saúde mental no ambiente de trabalho é essencial para produtividade e engajamento. Ações pontuais não bastam, alerta a psicóloga organizacional
A saúde mental dos colaboradores deve ser uma prioridade permanente nas empresas, defende Patricia Ansarah, psicóloga organizacional e precursora do conceito de segurança psicológica no Brasil. De acordo com a especialista, organizações que não se dedicam ao cuidado com a saúde mental enfrentam desafios significativos, como aumento do turnover, queda no engajamento e problemas com o clima organizacional. A situação pode culminar em casos de burnout, ansiedade e depressão, que afetam diretamente a produtividade das equipes.
A necessidade de políticas estruturadas é evidenciada por uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) de 2023, intitulada “Como as empresas cuidam da saúde mental dos seus funcionários?”. O levantamento revelou que 45% dos entrevistados relataram redução de jornada ou ausência no trabalho devido a problemas relacionados à saúde mental, enquanto 54% admitiram ter enfrentado algum transtorno mental. Alarmantemente, 63% afirmaram que não receberam apoio da liderança para lidar com essas questões.
Liderança preparada é fundamental
Um dos pontos centrais destacados por Patricia é a necessidade de treinar lideranças para identificar sinais de problemas de saúde mental entre os colaboradores. “Mesmo que a empresa tenha estruturas de apoio, como psicólogos e programas de benefícios, elas só serão acionadas se a pessoa tomar a iniciativa. É essencial que líderes sejam capacitados para perceber comportamentos atípicos e oferecer suporte inicial”, explica Ansarah.
Essa preparação não se destina a transformar gestores em especialistas ou diagnósticos, mas sim a ajudá-los a identificar sinais aparentes. A alfabetização emocional no ambiente corporativo também é essencial para que a organização compreenda melhor os sintomas e possa atuar preventivamente.
Conversa aberta e escuta ativa são aliados
Além de uma liderança preparada, Ansarah aponta que criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para compartilhar questões emocionais é indispensável. “Quando há uma boa relação entre gestores e equipes, a comunicação flui melhor e o colaborador tem mais abertura para falar sobre sua situação emocional antes de buscar o RH. O gestor precisa praticar a escuta ativa e pensar em formas de ajudar”, explica.
Indicadores como absenteísmo, mudanças de humor ou comportamentos atípicos também devem ser monitorados de perto. Ansarah sugere que as empresas estimulem a conversa e promovam educação sobre emoções e doenças mentais para reduzir o estigma e aumentar a conscientização.
Flexibilidade pode fazer a diferença
Outra recomendação da especialista é a flexibilização de horários ou a adaptação do escopo de trabalho para colaboradores que enfrentam dificuldades emocionais. “Um horário ajustado ou home office temporário podem ajudar o colaborador a se sentir menos pressionado. Além disso, dividir projetos em etapas menores pode funcionar como recompensas graduais, trazendo sensação de realização”, orienta.
A personalização do suporte depende do diagnóstico das necessidades específicas de cada colaborador. Segundo Patricia, o foco deve ser em criar soluções que mantenham o colaborador próximo à equipe, sem sobrecarregá-lo.
Resultados de políticas sustentáveis
Investir em saúde mental no ambiente de trabalho gera resultados tangíveis, tanto para os colaboradores quanto para a empresa como um todo. “Cuidar da saúde mental dá resultado. Pessoas em organizações que realmente priorizam isso tornam-se mais produtivas, engajadas e colaborativas”, enfatiza Ansarah. Ela ressalta que o bem-estar no trabalho cria um ambiente propício ao aprendizado, à inovação e à realização pessoal.
Como fundadora do Instituto Internacional em Segurança Psicológica, Patricia Ansarah é uma voz ativa na promoção de práticas que fortalecem a saúde mental nas organizações. Ela conclui: “Incorporar saúde mental aos indicadores de desempenho não é apenas uma questão de cuidado, mas de estratégia para o crescimento sustentável das empresas.”
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