Pesquisa mostra que o percentual de universitários até diminuiu nos últimos quatro anos entre aqueles que iniciam o próprio negócio
Se antes da pandemia a maior parte dos microempreendedores brasileiros já não concluíam cursos universitários como preparação para iniciar seus negócios, esta realidade pouco mudou, mesmo com a maior acessibilidade aos cursos digitais. É o que revela a pesquisa realizada pelo Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (CEAPE Brasil), com 26 mil empreendedores de diversos estados brasileiros. Os dados mostram que 87% dos entrevistados não concluíram e nem estavam cursando faculdade até julho de 2023. Em 2019, o percentual era de 88%.
Para o presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT), César Silva, os números pouco surpreendem por revelar a realidade da educação superior no país. “O setor tem mais de 35 milhões de vagas em oferta e somente 2,5 milhões de ingressantes por ano, uma das menores demandas dos últimos anos, além da maior taxa de evasão durante os cursos”, alerta. Segundo ele, se perde, em média, por evasão, 30% dos ingressantes por ano. E o motivo principal é a falta de conexão entre o ensino superior e as competências exigidas no mercado de trabalho. “Muita coisa não se aprende nos bancos de faculdades, mas sim na prática. Então, muitas vezes, o aluno se vê desmotivado ao não conseguir perceber qual será a aplicação daquele conhecimento”, observa.
A boa notícia presente no levantamento do CEAPE se refere ao aumento do número de pessoas que declararam ter terminado o segundo grau. Enquanto em 2019, este percentual era de 43% do total, em 2023 ele subiu para 46%. Consequentemente, o percentual de microempreendedores que tinham o primeiro grau incompleto caiu de 21% para 16%. Neste sentido, Silva comenta que uma medida positiva para auxiliar estas pessoas a se prepararem melhor para empreender é o aumento do número de cursos técnicos.
O especialista ressalta que o Brasil, ao contrário de países desenvolvidos como os europeus, apresenta menos de 10% dos jovens estudantes do ensino médio vinculados a educação profissional. “Os três últimos anos de estudo, na etapa da juventude, devem ser voltados para uma formação mais contextualizada e alinhada com as necessidades de produtividade do país. Tal mudança tende a reduzir a evasão dos estudantes e também trazer uma aplicação aos empreendedores do futuro”, observa.
Analfabetismo
Chama a atenção ainda o número de pessoas que se declaram não alfabetizadas, o qual cresceu 1 ponto percentual entre 2019 e 2023. Atualmente 5% dos empreendedores são analfabetos, pouco acima dos 4% detectados anteriormente.
“Sabemos que uma parte importante dos microempreendedores atuam em segmentos mais artesanais, como de confecção de bijuterias, tear, culinária etc. Sua profissão não exige que seja alfabetizado. No entanto, esta situação preocupa por conta da necessidade de conhecimento para cuidar da gestão do empreendimento, como o fluxo de caixa, empréstimos e até a parte burocrática como emissão de nota fiscal”, afirma a Diretora Executiva do CEAPE Brasil, Claudia Cisneiros.
De acordo com Claudia, explicar as pessoas como utilizar os recursos disponíveis para ampliar e sustentar o negócio é a grande diferença entre o microcrédito comum e o microcrédito produtivo orientado, que não se limita ao dinheiro, mas também envolve educação financeira dos tomadores. O Ceape empresta principalmente para empreendedores informais com o objetivo de fomentar esses pequenos negócios e, em seguida, colocá-los no caminho da formalização. “Hoje também emprestamos para alguns MEIs, mas o foco maior ainda está nas pessoas físicas que empreendem informalmente. Nossa preocupação não é só conceder o recurso, mas sim orientar sobre como ele deve ser utilizado para que as pessoas possam melhorar de renda e crescer”, afirma.