Luciana Rodrigues começou a trabalhar com unhas de maneira modesta, nos fundos da casa dos pais, quando ficou grávida de gêmeas com apenas 15 anos; a vida lhe ensinaria em seguida que o amor sempre vence quaisquer que sejam os obstáculos
Poucas situações são tão motivadoras e determinantes para uma mulher quanto a tomada de decisão de começar a empreender pelo bem-estar de um filho, ao se tornar mãe. Assim começa a história de tirar o fôlego de Luciana Rodrigues, natural de Araguaína, no Estado do Tocantins. A empresária, instrutora e nail designer de 34 anos é mãe de 3 filhos, duas meninas gêmeas, Mikaele e Daniele, já falecidas em decorrência de complicações da microcefalia e hidrocefalia, e Daniel, um adolescente de 15 anos, grande companheiro e um dos principais incentivadores de sua carreira.
Casada com Brendo, seu marido, amigo, confidente e também parceiro nos negócios, a empreendedora viu a sua vida ganhar luz e cor novamente quando venceu uma série de dificuldades, incluindo períodos complicados de solidão, luto, estágios de depressão e outros obstáculos na carreira como nail designer. Mas tudo isso ficou para trás. Treinadora, hoje ela também ensina, palestra, inspira e divide um pouco de sua história para motivar outras mulheres a se tornarem sua melhor versão.
Ao recordar como tudo começou, Luciana é enfática: “pulei da infância direto para a fase adulta”, atestou. Seu pai costumava comprar os materiais para que a ainda jovem Luciana cuidasse de suas unhas. Aos 15 anos, ela engravidou de duas meninas gêmeas. “Precisava muito trabalhar para poder sustentar as minhas filhas, que eram especiais. Como já tinha facilidade e havia aprendido tudo sozinha, comecei a fazer unhas.”
Aos 16 anos, Luciana havia se casado pela primeira vez com o pai das meninas que, na época, era dois anos mais velho do que ela. Porém, logo se viu sozinha na lida diária, com uma série de responsabilidades sob seus ombros e, ao mesmo tempo, tendo de lidar com uma pessoa imatura no relacionamento.”Sempre quis dar o melhor para os meus filhos. Como de costume, a mulher amadurece mais rápido do que o homem e esse era o meu caso: ele era imaturo demais para enxergar a complexidade da nossa situação”, enfatizou.
Caminho sinuoso do empreendedorismo
Com apenas 1 ano e 5 meses, Mikaele não resistiu à condição que a acometia e faleceu. Apesar da tristeza, Luciana precisava continuar por Daniele e depois por Daniel que nasceu dois anos depois das meninas. Com o então marido, viveu durante 10 anos na chácara dos ex-sogros. Decidida a mudar o curso da sua história, separou e, com as crianças, foi morar em uma casinha de tábua, aos fundos da casa dos pais.

“Nessa época eu comecei a fazer unhas em um salão da cidade. Eu conseguia cumprir a minha agenda quando Daniele estava bem, já que assim ela podia ficar com a minha mãe. Mas como ela tinha muitas crises convulsivas, eu decidi atender minhas clientes em casa mesmo para cuidá-la de perto, debaixo de um pé de manga, em um bairro que era distante de tudo”, recorda Luciana.
“Eu tinha que fazer dar certo, pois era a única coisa que conseguia fazer para ganhar dinheiro em casa. Fui conquistando clientes que entendiam a nossa situação. Algumas chegavam em casa e já se ofereciam para me ajudar a lavar uma louça, por exemplo. Sou muito grata a Deus por sempre ter colocado pessoas iluminadas no meu caminho.”
Luciana rodrigues
Enquanto isso, o filho Daniel, sempre presente, ajudava olhando a filha para que Luciana pudesse trabalhar “Ele ajudava a lavar o cabelo, a dar banho e outras situações que precisava desse apoio”, recorda Luciana.
Com o passar do tempo, a empreendedora foi juntando dinheiro para construir a sua casa. Ela decidiu aprimorar as técnicas e fazer outros cursos no segmento “Fiz um curso de cabeleireira e comecei na área dos cabelos. Fiquei um bom tempo trabalhando com isso. Mesmo com todas as dificuldades que tinha, era preciso fazer viagens com a minha filha para que ela realizasse os tratamentos. Eu montei o ponto comercial na frente da minha casa.”


A dor da perda da filha e a fé na mudança
Luciana continuou sozinha com as crianças durante os cinco anos seguintes. Resistindo às dificuldades como podia, a nail designer permaneceu firme em direção ao seu sonho de empreender. Porém, em 2019, a filha Daniele adoeceu e teve de ser internada às pressas no hospital. Durante mais 5 meses, a adolescente de 14 anos ficou em tratamento na UTI. Então o mundo de Luciana parou.

“Nessa época eu ainda mexia com cabelo, mas tudo ficou muito difícil. Daniele foi submetida, nesse meio tempo, a 8 cirurgias. Eu só atendia as clientes de vez em quando. Foi na última cirurgia, após 8 horas aguardando a minha filha sair do centro cirúrgico, que ela não resistiu e faleceu. Eu fiquei muito mal, depressiva, sem cuidar de mim, sem dormir durante um ano, que foi um período para viver o meu luto”, relembrou emocionada.
As lágrimas de Luciana continuam a cair sempre que se recorda desse momento tão delicado de sua vida. Mas foi na igreja que a empreendedora fortaleceu a sua fé em Deus e também conheceu o Brendo, que logo se tornaria o seu marido. “Deus me deu ele de presente como parceiro. Desde o início, sempre me ajudou em tudo.”
Luciana começou a passar mal com os fortes produtos químicos do salão e decidiu fechá-lo. Posteriormente, descobriu que tinha fibromialgia. Em 2020, no início da pandemia, ela se mudou para Goiânia com a família. Lá ela retornou às origens do ofício e se especializou em alongamento de unhas.
“Voltamos pouco tempo depois para a nossa casa, pois não conseguia viver longe dos meus pais. Voltei a trabalhar em salão, mas já sabia que não era o que eu queria. Eu buscava aquela conexão, o atendimento personalizado que oferecia e trabalhando para os outros eu não conseguia ter isso. Reformei o meu antigo ponto e estou há dois anos aqui. Logo consegui fechar a minha agenda de atendimento. Já comecei a ministrar cursos e palestras, ensinando estratégias de como a profissional pode lotar a sua agenda”, afirmou, entusiasmada.
Luciana passou a ensinar como é possível oferecer um atendimento de excelência. Sua última capacitação reuniu 150 mulheres. “O resumo da minha história foi ter percebido o propósito de Deus na minha vida: dizer que sou a prova viva de que, se passei por tudo isso, qualquer mulher também consegue suportar”, ressaltou com convicção.
Luciana disse que procurou por tratamentos psicológicos, mas que tira da memória das filhas a força para continuar no caminho do empreendedorismo. “Quando busquei ajuda profissional, comecei a entender coisas que não havia percebido antes. Cheguei à conclusão de que nós desistimos quando temos várias opções. Mas quando se tem um único caminho, desistir não é opção. Por isso, meu foco foi voltar a trabalhar com as unhas, para fazer o negócio dar certo mesmo.”
Brendo segue a apoiando incondicionalmente. “Ele me apoia em todas as minhas loucuras. Trabalha de pizzaiolo, mas me ajuda no marketing, no meu Instagram, é meu braço direito. Ele também já está atendendo nas unhas, aprendendo mais e com clientes que estavam fora da agenda. Meu filho também decidiu que quer seguir a carreira de cabeleireiro e vai fazer um curso em breve”, antecipa a empreendedora.


À esquerda, com o filho Daniel, e à direita, momento único de seu casamento com Brendo. Foto: arquivo pessoal
“Se não fosse Deus, não teria suportado tudo isso. A força e a fé leva você onde você sonha.”
Luciana conheceu o Sicredi por intermédio de Brenda Lima, agora sua gerente exclusiva Donas do Negócio da agência Filadélfia, em Araguaína, a quem considera uma amiga. “Ela é minha cliente há muito tempo e viu de perto tudo o que passei. Acredito que fui uma das primeiras a quem ela chamou para participar do Donas do Negócio. Mas antes eu havia demorado um tempo para abrir a conta, pois trabalho muito em mesa. Veio um colaborador do Sicredi aqui abrir a minha conta. Onde já se viu isso?Comecei como Pessoa Jurídica há pouco mais de um ano e o atendimento sempre foi incrível”, complementou Luciana.
Sua gerente, Brenda, é uma das grandes incentivadoras de sua carreira. “Eu agradeço muito a ela, por não ter desistido de mim. A Brenda me ensinou a separar as contas e dizia ‘você é uma empresa grande e não está conseguindo enxergar isso ainda!”




Agora animada com o Donas do Negócio e com planos de montar uma sala de cursos, ela quer ajudar outras mulheres que passam por situações semelhantes às que enfrentou na vida. “Tenho certeza de que as meninas têm muito orgulho da mãe delas. Um dia antes de partir, Daniele não falava mais e nenhum remédio fazia mais efeito. Eu disse à minha filha: ‘você pode ir, meu amor, que eu vou seguir daqui e cumprir todos os nossos sonhos. E aqui estou, seguindo por elas, pelo Daniel, pelos meus pais, pelo Breno e por todas as mulheres que eu pude auxiliar e que ainda poderei muito mais”, finalizou a extraordinária empreendedora.