Joelma, carinhosamente chamada por Jô, afirma que sentiu uma emoção indescritível quando viu seu nome impresso nas sacolas da loja que conquistou com muita dedicação
Joelma Garcia Cândido é calorosa, comunicativa e alegre. Dona de uma voz potente e uma presença marcante, ela é empreendedora em Água Clara (MS), onde mantém a sua loja – Mania de Jô – que completa 5 anos no próximo dia 1º de setembro.
Nascida em Três Lagoas, de origem humilde, mas muito amorosa, ela viveu com os pais na zona rural até os 12 anos. Como era de praxe na época, foi estudar na cidade e entregue a um casal de amigos da família, que se prontificaram a ajudá-la nos estudos e acolhê-la na casa.
A adolescente cuidava da filha do casal, mas ela não se sentiu preterida por isso. “Com eles eu aprendi a cozinhar, a cuidar de uma casa. Essa família me acolheu como uma filha”, disse Jô muito orgulhosa. Inclusive filhinham do casal, hoje uma profissional admirada, é cliente da loja de Jô.
Aos 15 anos, Joelma teve de lidar com a primeira gravidez. E assim, foi morar novamente com os pais, pois o relacionamento não havia dado certo. Após o nascimento de Alaiane, atualmente com 29 anos, passou por várias experiências de trabalho. “Minha família era simples, e todos tínhamos que trabalhar para contribuir. Trabalhei em um sacolão onde fazia de tudo um pouco: do atendimento à faxina”, relembra a empreendedora.
Início da paixão pelas vendas
Jô é enfática ao dizer que as vendas sempre foi um assunto de grande interesse para ela. Enquanto vendia cosméticos de maneira independente, como Avon, ela trabalhava de atendente em posto de combustíveis. Ali, ela absorvia todo o conhecimento que podia. “A dona desse posto muito tradicional da cidade sempre me dava conselhos, e eu levei isso para a minha vida.”
Aos 17 anos, um novo amor bateu à sua porta. Após 6 meses de namoro, decidiram morar juntos. Jô permaneceu numa fazenda distante 40 quilômetros da cidade, onde o então companheiro era gerente, durante 7 anos. “Ele cuidou da minha filha, que tinha 2 aninhos na época, como se fosse o pai. Até hoje somos melhores amigos.”
O relacionamento durou 14 anos e, dessa união, a filha Aline, hoje com 23 anos, chegou para fazer companhia à irmã. A lida na fazenda era bastante pesada, mas Jô estava acostumada a trabalhar bastante. Após a separação, a empreendedora retornou à cidade. Jô passou por outras experiências de trabalho, como cargos na prefeitura, mas logo ela teria que percorrer a cidade a pé para conseguir uma renda mensal extra.
“Nas horas vagas, eu fazia faxinas e não tenho vergonha alguma disso. Nunca ficava sem o meu dinheirinho. Comecei a trabalhar na Ely Modas, que era muito rígida. Por isso, ela me fez crescer na vida”, recorda Jô.
Como cargos comissionados são instáveis, ela se desdobrava em trabalhos diferentes durante o dia. Nessa época, Jô conheceu outro amor e veio Valentina, hoje com 9 anos. “A minha filha caçula tinha 40 dias quando decidi me separar desse companheiro. Hoje, é ela quem faz a propaganda da loja. É despojada e uma alegria para a família. Valentina é a valente da minha vida”, atestou, emocionada.
Com as duas filhas mais velhas morando fora da cidade para ingressar à universidade , Jô se viu sozinha com Valentina para seguir seu sonho. A dona da loja em que trabalhava dividia seu tempo com outra filial na cidade de Três Lagoas. Enquanto isso, Jô ficava inteiramente responsável pelo funcionamento da loja de roupas em Água Clara.
As filhas, preciosidades na vida da mamãe empreendedora. Foto: arquivo pessoal
“Um certo dia, ela disse que levaria todas as coisas da loja, pois iria fechá-la. Eu entrei em pânico! Tinha conseguido guardar 6 mil reais. A dona do imóvel me viu chorando e questionou por que eu estava triste. Respondi que estava desempregada e que mais uma vez teria que recomeçar a vida do zero. Foi quando ela deu a sugestão de eu tocar sozinha a loja. Me disse para ir para casa e orar, pedir a Deus uma direção e foi o que fiz”, explicou Jô, sobre seu ponto de virada.
O sonho que se concretizou
Jô ainda se lembra que sonhou naquela noite que a loja era dela. Disposta a realizar essa visão, a dona do imóvel sugeriu um aluguel bem em conta para que ela conseguisse permanecer com o ponto comercial.
A empreendedora mobilizou a família para ajudá-la a montar o estoque. O irmão deu 2 mil reais e o pai de Aline, a filha do meio, mais 6 mil e ela também ingressou como sócia do negócio. “Mas a Aline nunca gostou de vendas, só gosta de usar mesmo as roupas bonitas da loja”, contou a empreendedora, entre risos.
Um sonho realizado para Jô. Foto: arquivo pessoal
A primeira compra de estoque foi em São Paulo, com peças mais baratas para encher a loja. Mesmo assim, Joelma tinha em mente que, em um futuro próximo, iria adquirir marcas mais renomadas. “Quando inauguramos, eu vendi 3 vezes mais do que investimos. Aquilo foi um sinal de que estava no caminho certo! Em 5 anos de loja, jamais voltou um cheque sequer com os meus fornecedores. Consegui comprar um Ford Fiesta em Campo Grande e também caí na estrada. Vendia as minhas peças para mais de 50 clientes em outra cidade, Ribas do Rio Pardo”, ensina Joelma, a como não desistir.
Com o passar do tempo, a empreendedora foi conquistando mais credibilidade junto aos seus fornecedores. Procurou peças mais elaboradas e conquistou mais crédito no mercado. Da sacolinha branca, simples, de plástico, outro sonho foi ver a nova sacola da loja – mais refinada e com o seu nome impresso. “Foi emocionante”.
Agora com a loja renovada e morando em um imóvel ao lado, Joelma conquistou um novo carro. “Para quem andava a pé no inicio, hoje eu consegui comprar um carro considerado ‘de médico’, o que é uma conquista inestimável para mim”.
Agora associada do Donas do Negócio na agência Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia em Água Clara, ela é uma inspiração para que mais mulheres não se deixem abater pelas adversidades da vida. “Participar do programa Donas do Negócio foi um momento emocionante para mim. Tive minhas falhas, mas também muito orgulho do que alcancei. Quero ajudar outras mulheres a perseguir seus sonhos. Precisamos correr atrás do que queremos, e eu sou a prova viva disso.“
*Por Vanessa Ricarte
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